Hoje me peguei entrando mais uma vez no site da EPIC Games para adquirir mais um jogo gratuito que a distribuidora oferece quinzenalmente. E aí me veio a reflexão que volta e meia passa por nossas mentes: precisamos mesmo pegar esses jogos gratuitos? Vamos jogá-los? Iremos dar valor?
Claro, na nossa cabeça vem imediatamente aquelas clássicas justificativas: “de graça até ônibus errado” e “vou pegar e um dia eu jogo”. Meu amigo, você não vai jogar nem se tiver numa prisão perpétua com um computador (ok… talvez isso possa ser um argumento válido). No máximo, vai instalar, abrir e fechar. “Ah, mas eu peguei um game gratuito que joguei até zerar”. Tá, e quantos jogos você já tem sob aqueles que realmente jogou? Se fizer a proporção, garanto que dá zero virgula alguma coisa percentual.
A origem
Isso é só uma percepção: o excesso de jogos pode estar intimamente ligado à sua idade. A molecada de hoje em dia instala um LoL da vida e tá de boa. Serenamente, pega um lançamento do momento, joga só aquilo e pronto. A maioria dos ditos “gamers” são jogadores de momento, como é a geração nascida pós 200X: generalizando, são menos apegados e consideram o videogame como simplesmente diversão e entretenimento.
Já nós, que pegamos uma época mais áurea e sentimental, consideramos videogame como arte. Aí que ferra tudo: qualquer jogo é uma peça de arte a ser explorada. E aí, começamos a nos apegar demais. Retrogamers entendem o que eu quero dizer: pegamos consoles antigos para relembrar jogos marcantes (maldita nostalgia) e para explorar o que deixamos pra trás. Mas aí é que tá: vamos explorar isso mesmo? Não sei. O que vale é o registro sentimental, que é único e intransferível… ou então, façamos o seguinte: vamos botando no backlog.
O brilho eterno de um backlog sem lembranças
Quem gosta de videogames de verdade e acredito ser o público alvo desse artigo, vai notar que possui um backlog tão grande, mas tão grande, que é impossível perceber seu fim. Backlog é a lista de jogos que, de alguma forma, você marcou pra jogar no futuro: seja na mente, no caderninho ou favoritando na plataforma que gerencia seus jogos.
Ser refém de um backlog não é bom: acaba que você descarta (ou esquece) de jogos geniais (e até mesmo sequencias de jogos brilhantes) por estar preso à sua lista. Isso costuma acontecer quando grandes jogos são lançados, apagando o lançamento de outros. Um exemplo na música foi o lançamento de Nevermind, do Nirvana. Se você analisar bem alguns outros discos que foram disponíveis na mesma época, são discos igualmente essenciais, sendo que alguns deles eu ainda escuto e o Nevermind, apesar de ser um grande disco, nem aguento escutar mais. Fiquem atento à qualidade, não sigam o ritmo da modinha.
Sobre as sequencias: quantas vezes você já esbarrou na questão “Ah, não vou jogar King’s Quest VI porque eu nunca joguei o I”. Eu recomendo urgentemente que deixe de besteira e vá jogar o que quiser. Se é daqueles que gosta realmente acompanhar tudo o que aconteceu antes e etc (o que é uma justificativa plausível, claro), leia e veja gameplays no YouTube. Garanto que é satisfatório. Deixe o preconceito de lado e faça isso. Você está velho e sem amigos: pare com essa bobagem de que “nossa, joguei todos da série XYZ”. Se nunca jogou uma série que já está na parte 8 e você quer jogar algum deles pois desperta seu interesse de alguma forma, escolha um alvo e leia/veja tudo que aconteceu antes. Funciona. Desapegue aos spoilers e àquilo que passou. Oportunidades vão e voltam.
Como lidar?
Tá, e quais as dicas que eu dou para lidar com o tema principal desse artigo? A internet hoje é cheia de artigos com tópicos então, esse vai ter também. Preparem-se:
- Não ligue para os lançamentos must play
A não ser que seja realmente um jogo que você quer e está esperando jogar (aka Cyberpunk 2077), não se sinta na obrigação de jogar um lançamento premiado só porque todos jogam e comentam sobre. Outra dica que dou é parar de ler/ver reviews de “revistas especializadas” de games. Não deixe que outras pessoas digam o que é bom pra você. Isso vale pra vida também, certo?
- Eu amo backlogs, cara! Como organizar?
Não dá pra descartar os backlogs, né? Eu entendo. Então faz o seguinte: jamais coloque um jogo de mesmo estilo próximo do outro. Se zerou o Red Dead Redemption 1, não parta pro 2 logo em seguida. Pegue outro estilo diferente para não ficar maçante demais a sua experiência.
- Desprenda da obrigação de zerar o jogo.
Só vou pro próximo jogo se eu zerar esse, certo? Errado! Há jogos que começam muito bem, empolgam, mas que no meio deles a narrativa fica ruim, a jogabilidade repetitiva, falta inspiração e… bom, parta pra próxima. “Ah, mas quero ver como que é o próximo cenário”. Fica a seu critério! Eu não sou desses: pra mim, a filosofia é “sai pra lá, jogo mediano”.
- Jogue retro games com responsabilidade
Eu sei que você tem uma pilha de jogos de emulador aí, né? Mesmo assim, não jogou nem 1 por cento deles, certo? A dica que dou é comprar, no mínimo, controles que parecem com os de consoles originais, caso ainda esteja nos emuladores. A experiência é outra, sério. E isso cria condições para explorar de maneira satisfatória os games. No meu caso, adquiri a versão mini de alguns consoles e passei a usar cabos RGB SCART para ligar outros que estavam parados na TV LCD. Outra vida.
- Pare de comprar jogos só porque “está barato”
Essa é difícil, principalmente aos amantes da Steam. Ao comprar um jogo, devemos, sim, usar algumas regras de economia “não faça compras com fome”, do tipo: Eu quero? Eu preciso? Eu posso? Eu devo? Verás que a maioria das suas compras já vai parar na primeira pergunta. ”Pô, mas tá barato, meu!!” Respire e guarde o dinheiro para comprar o jogo que você DEVE comprar.
Quantos aos jogos gratuitos, bom, se você for uma pessoa organizada, vá fundo. Eu fico muito incomodado com minha lista de jogos na Steam com 80% de jogos comprados no impulso. Não consegui separar ainda quais jogos do EPIC Launcher eu poderia jogar e tenho tanto jogo no Itch.io que até assusta.
The best you can is good enough
O mais importante é: não ligue para os seus amiguinhos, meu filho! Vá jogar o que quer jogar, no seu tempo e na sua hora. Imersão é o que precisa. Entretenimento é o que você quer. Satisfação é o que te faz levar a vida a diante.