Agora a pouco me vi em meio a uma discussão no facebook (sim, sou desses que adora um barraco online), numa postagem da Bandai Namco sobre o jogo Ni no Kuni: Wrath of the White Witch Remastered e pensei aqui: “Será que é muito exigir que os jogos tenham uma localização BR?”
Este jogo é fenomenal, tanto que estava disposto a adquirir mais uma cópia, só por achar que viria com legendas BR assim como o vídeo promocional mostrou. Seria bem interessante, pois os diálogos são lotados de trocadilhos e quem não é tão fluente em inglês acaba perdendo parte do entendimento do jogo.
Algumas pessoas na postagem estavam conformadas e até falando que era culpa do baixo consumo dos jogos e também das vendas que não atingiam o esperado pelas produtoras.
Bem, como tudo é mercado, resolvi ir atrás dos dados e ver se a minha indignação fazia sentido, ou simplesmente era algo que só eu via desta forma.
Fazendo uma rápida pesquisa na internet, cheguei a esses resultados:
- Mercado de Games no Brasil é um mundo de oportunidades;
- O crescimento da indústria de games no Brasil;
- Consumo de jogos movimenta US$ 1,5 bilhão no Brasil, diz pesquisa;
- Brasil possui 3º maior mercado de jogadores, diz organizador da BGS;
- Como anda o mercado de games no Brasil? Descubra neste post!;
- Mais da metade dos brasileiros joga games eletrônicos;
- 25 estúdios brasileiros de games irão participar de dois eventos nos EUA
Sei que ainda temos que crescer e muito neste quesito, mas esses dados podem dizer algo, que ao meu ver deve sim ser levado em consideração.
Então porque as pessoas aceitam o fato de que a localização não é tão relevante ou que localizar para o português não tem apelo pelas produtoras e publicadoras?
Bem, é neste ponto que eu quero me atentar.
Como tudo começou…
No ano de 1991 a Tectoy resolveu traduzir um jogo que eles iriam lançar de forma oficial no mercado Brasileiro e isso foi um grande marco para o nosso mercado. O jogo que era o Phantasy Star, um JRPG, que é sem dúvida um dos mais importantes do Master System e para nós Brasileiros, um dos mais queridos, pois era a primeira vez que teríamos contato com este estilo de jogo, totalmente em português.
Phantasy Star I – Clássico RPG do Master System em português pela Tectoy!
Depois, a própria Tectoy resolveu, além de traduzir o jogo, fazer uma excelente localização em Wonder Boy in Monster Land e adaptou o jogo, inserindo os personagens da turma da Mônica, se tornando um grande clássico até hoje lembrado por muitos fãs da série.
Mônica no Castelo do Dragão – A primeira aventura da dentucinha no Master System!
Lembro quando eu com os meus 11 anos de idade cheguei a ver esses dois títulos logo no seu lançamento, meus olhinhos brilharam. Eu conseguia ler os textos sem nenhuma dificuldade, nem precisava recorrer os dicionários, para entender alguma palavra que estava inserida no contexto.
Outros títulos também muito bons naquela época tiveram a sua localização BR muito bem feita, podendo citar:
Full Throttle (no Brasil lançado pela Brasoft), este jogo realmente impressionava pela quantidade de diálogos e pela qualidade da adaptação dos textos. Um título de peso que fez os brasileiros se apaixonarem pelos Adventures dos anos 90 e pela produtora Lucas Arts.
Ainda para citar a Brasoft, em 1996 eles publicaram dois títulos para Macintosh, Star Wars: Rebel Assault II e The Dig, o segundo agradando muito os poucos proprietários de Mac daquela época!
A era das dublagens
Depois dos jogos com legendas, tínhamos que atingir outro patamar das localizações de produtos de entretenimento, foi aí que vieram as famigeradas dublagens. Uns amam, outros odeiam, mas é fato que quando o jogo vem dublado, você tem certeza que aquela empresa dá muito valor ao seu dinheirinho.
A minha memória não é das melhores, mas forçando um pouco consigo me lembrar (claro que o Google me ajudou nesta aventura) de Outlaws, um jogo em primeira pessoa baseado em um motor gráfico utilizado pela Lucas Arts em Star Wars: Dark Force. Lançado em 1997 acompanhado de cinemáticas engraçadas e bem feitas para a época. Eu particularmente não gosto e não joguei muito este título, mas que este jogo chamou muito a atenção dos gamers hue hue br noventistas, ah, como chamou, pois se tratava do primeiro jogo totalmente dublado em nossa língua nativa.
Daí para frente, foi só alegria!
Bem, nem tanto. As produções de jogos traduzidos para o nosso português no começo dos anos 2000 oscilou de alguns títulos pequenos e alguns grandes, fazendo que os fãs tomassem as rédeas e fossem lá suar nas traduções. Jogos piratas de futebol são os mais comuns em consoles, mas nos PCs essas traduções são bem mais constantes e a lista é imensa.
Sim, o Brasil era dominado pelos camelôs, ambulantes e até lojas físicas com os seus jogos Jack Sparrow de PS1, PS2 e PC fazendo a festa da mulekada. O acesso aos jogos originais ficava mais restrito às lojas de Shopping Centers e Locadoras, que tinham preços não muito convidativos ou estavam com títulos não tão cativantes, como os Bomba Patch (jogos de futebol modificados que vinham com a escalação atual e uniformes oficiais do seu time do coração) e jogos legendados em BR, trabalho primoroso feito em sua maioria, pelo próprio grupo que o pirateou.
Basta um título cair nas graças dos jogadores, que já um grupo se reúne para fazer a tradução e lançar um patch para introduzir os textos nos jogos.
Tirando as legendas fanmade, temos os primeiros estúdios Brasileiros nascendo (CyberGambá, Green Land Studios, Bitcrafters Inc., Preloud, Ubisoft São Paulo, Southlogic e mais tantos outros) e isso fez com que os jogos já nascessem falando o nosso belo idioma.
Este cenário meio pós apocalíptico a lá Mad Max toma conta da nossa terrinha e a luz só reascende na geração, PS3, Xbox 360 e Steam, quando vários estúdios, por intermédio da Sony, Microsoft, Ubisoft, Warner, Capcom e outras, fazem com que o olhar ao nosso povinho volte com uma certa força no mercado internacional.
Mas e aí, como a gente fica nisso tudo?
A participação do Brasil vem aumentando no mercado de games mundialmente falando e isso vem refletindo de como nós jogadores nos vemos como consumidores deste produto.
A quantidade de estúdios Brasileiros vem crescendo nos últimos anos, podendo citar alguns como JoyMasher, Behold Studios, Rockhead Games, Aquiris Game Studio que se destacam tanto nacionalmente, quanto internacionalmente. A produção anual, tanto em números, quanto em qualidade, vem nos agraciando com ótimos jogos assim como Celeste, Horizon Chase Turbo, Dandara, Chroma Squad, Blazing Chrome. Isso faz com que o nosso país faça parte do mercado internacional e os outros estúdios olhem com bons olhos o nosso mercado. Como foi muito bem observado aqui nesta matéria sobre os 10 jogos brasileiros que fizeram sucesso no exterior
Eventos voltados para os videogames estão em popularidade em nossas terras, alguns que eu posso me lembrar logo de cara são BGS, BIG FESTIVAL e o Prêmio eSports Brasil (este voltado para o cenário competitivo de esportes eletrônicos). Isso mostra o quanto amamos e estamos engajados no que diz respeito a vídeo jogos.
Movimentos como o finado Jogo Justo, iniciou uma mobilização pela consciência do nosso papel no mercado, buscando um olhar do governo para diminuição da carga tributária e para um aumento de distribuição de jogos aqui no Brasil.
Hoje é inegável que inúmeros títulos, de grandes e pequenos estúdios, seja de produções milionárias (Mortal Kombat 11, Terra Média: Sombras da Guerra, Batman Arkham Knight, Gears 5, God of War), ou de baixo custo (The Messenger, Katana Zero, Jotun: Valhalla Edition, Hollow Knight, Blasphemous, Ori and the Blind Forest), saem em português BR e que o custo destas traduções vem caindo e muito, mas vai do interesse de cada estúdio, produtora, ou publicadora de traduzir, dublar e localizar os seus jogos.
Eu realmente acredito que um pouco de barulho possa fazer a diferença e não somente ficar calado esperando que as vendas sejam enormes para que essas traduções venham. Então bora lá gritar, xingar, espernear, pois é o nosso dinheiro investido e se eles não nos escutarem, vamos continuar gritando, até que um dia a indústria veja o Brasil como um mercado bom para se investir.
Ah já ia esquecendo, algo que vale observar é que a pouco tempo iniciou-se uma mobilização tanto dos estúdios de jogos indies, quanto dos produtores de conteúdo em redes sociais, chamado #QueremosNintendo, que tenta trazer de volta a Nintendo para o mercado brasileiro, tanto para a venda, quanto para a localização de seus jogos. Uma bela iniciativa que deva ser exaltada.